Agências à prova de crise
O mercado publicitário, que começava finalmente a recuperar da última crise, prepara-se para nova tempestade. Apesar das nuvens cinzentas no horizonte, há quem arrisque lançar novos projectos em plena pandemia. É caso para dizer que as crises são momentos
A última crise subtraiu cerca de 400 milhões de euros ao mercado publicitário português. Foi uma quebra sem precedentes. E, no entanto, foi entre o rebentar dessa crise e os anos da troika em Portugal que o mercado viu nascer algumas das agências que, ainda hoje, mais se destacam no panorama nacional, como a Fuel, a Nossa ou O Escritório. Numa altura em que as estimativas apontam nova quebra na ordem dos 25 por cento, o que pode levar o mercado a perder 100 milhões de euros no espaço de um ano, continua a haver quem não tema nuvens cinzentas nas folhas de Excel e veja na crise a oportunidade para provar que o lugar-comum que junta as duas palavras não é apenas teoria de manuais de macroecono- mia. Desde o início da pandemia, são já vários os novos projectos no mer- cado, da publicidade ao design, passando pela comunicação, marketing de influência ou produção de conteúdos. O que leva os profissionais a arriscar em momentos como este? Há menos a perder? É mais barato contratar talento? O M&P ouviu alguns profissionais para fazer um balanço do arranque de seis projectos e tentar encontrar resposta a algumas destas questões, ao mesmo tempo que apresentamos o testemunho de quem lançou projectos de sucesso no decorrer da última crise.
Duzentos
Decorria ainda o período de estado de emergência no país quando, na primeira quinzena de Abril, foi apresentada ao mercado a Duzentos, uma agência de comunicação que se descreve como “uma unidade criativa composta por seis áreas de negócio”, sendo elas a estratégia, relações públicas, eventos, digital, conteúdos e influenciadores. Mas o caso desta agência é um pouco di-ferente. “A Duzentos é um projecto anterior à pandemia. O projecto, o posicionamento, as ideias e os objectivos foram concluídos no final de 2019”, conta ao M&P Tomás Men-des dos Santos, partner e director de operações da agência, que conta com mais quatro sócios: Bruno Assunção, Pedro Simões, Pedro Messias e Vítor Duarte. Quando se começou a perceber que o país caminhava pa- ra o estado de emergência, recorda o profissional, que nos últimos anos passou pela YoungNetwork, onde foi responsável pela componente digital e criativa na área de relações públicas do grupo, “rapidamente percebemos que o cenário se estava a complicar, que a comunicação tinha sido o elo mais fraco no passado e que, ainda para mais, uma das nossas áreas com clientes fechados ia parar por completo: os festivais de Verão”.
“Esta era a área que ia fazer a Duzentos dar o salto, aparecer e ganhar dimensão para uma estrutura, e daí crescer para outras áreas”, explica, contando que, a partir daí, acreditando que a estrutura pequena seria uma vantagem nesta fase, “voltámos ao estirador e delineámos uma nova estratégia de lançamento”. “Atrasámos o lançamento um mês e percebemos que afinal a comunicação não estava a ser posta de parte pelas empresas, muito pelo contrário, havia sede de novas ideias e a nossa estratégia era perfeita para as trabalhar”, afirma Tomás Mendes dos Santos.
Olhando para estes primeiros três meses, o responsável assegura que “o balanço é acima do expectável. Nunca pensámos que, depois de perder no ano de lançamento o nosso principal mercado, conseguíssemos na mesma atingir os objectivos”. “Estamos a cumprir aquilo que delineámos antes da situação e estamos em posição de acreditar que conseguimos crescer o suficiente para alcançar os objectivos delineados pa- ra 2020”, antecipa, considerando que “a aposta na integração de produção de conteúdos com uma equipa experiente de fotografia e vídeo está a mostrar-se eficaz”. Resultados que fazem com que a agência esteja já a preparar o lançamento de uma nova área de negócio, adianta Tomás Mendes dos Santos, sem revelar mais detalhes mas assegurando que estará para “muito breve”.
“Para a Duzentos, a crise foi um momento de oportunidade”, resume o responsável, acreditando que “se tivéssemos surgido no mercado um ano antes, provavelmente teríamos tido um impacto severo, mas surgindo nesta fase tivemos a oportunidade de nos reinventar e de criar uma estratégia de lançamento tailor-made para a situação, sem termos uma estrutura assustadora para manter”. Estrutura que, entretanto, também já cresceu. Além dos cinco sócios, foram contratados mais três profissionais e é expectável que a equipa volte a aumentar até ao final do ano. Questionado se é mais barato contratar talento numa fase como esta, Tomás Mendes dos Santos reconhece que “a oportunidade existe actualmente, mas diria que nunca deixou de existir desde a última crise”. “Percebemos, nos currículos que nos chegam todos os dias, que há efectivamente oportunidade de contratar mais barato neste momento”, afirma. Contudo, assegura, “na Duzentos preferimos ter uma equipa sólida, capaz e criativa, e isso não se consegue a ir buscar o mais barato”.
Se quer lançar um projecto agora estes são riscos/erros a evitar:
“Os riscos são muitos, mas iniciar um novo projecto tem sempre todos os riscos, com ou sem momentos conturbados. O risco de errar quando não há estrutura não é grave e diria que o único erro é criar essa estrutura antes de garantir a mesma com negócio. Não é, de todo, necessário nesta área e, se o tivéssemos feito, em vez de abrir a Duzentos preocupados em fazê-la crescer, tínhamos aberto focados em correr atrás do prejuízo. Outro erro é não arriscar”, Tomás Mendes dos Santos (Duzentos).
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